Solidão á Noite

Sozinho, na rua.
Nunca pensei que o passeio fosse tão largo,
Só para mim.
Ando na rua sozinho pois faz bem andar.
Ainda não vou para casa, sozinho.
Para quê, não está lá ninguém.
É melhor esticar as pernas.
Não vou ter com ninguém,
Para quê... não vale a pena.
Prefiro passear um pouco mais.
Só isso.

É engraçado pois só nestas alturas, que ando sozinho, é que reparo em pequenos pormenores que, quando vou com outras pessoas, não reparo.
Porque será?

Hoje as casas estão particularmente baças e cinzentas.
As pessoas passam atónicas, também não as conheço.
Alto, ali vai o Sr. A, deixa-me cumprimentá-lo; uma simples confirmação com a cabeça como a dizer: “Sim, eu vi-o; como está?....” deve chegar.
Está cumprida a boa educação... Sim, a simples boa educação.

Olho para o chão e vejo uma enorme poça de água.
Estranhamente límpida e transparente para estar no meio da cidade.
Nela reflecte-se a cidade, escura, negra.
As pessoas estão mais distantes e sombrias; olham para mim através do reflexo na água mas não me vêem.
A pequena poça mais parece um pequeno lago agora que estou no meio dele.

Estou eu invisível para as pessoas;
Ou simplesmente deixei de existir.
Acho que não existo.

Mas a vida é assim; não existimos para quem não conhecemos.
E mesmo assim, para as que conhecemos...

O lago ondula como um pequeno oceano pacífico.
Na sua orla ao fundo, as casas, as pessoas, a paisagem esbatidas vivem os seus afazeres sem se importarem comigo.

Continuo a olhar o meu oceano,
Despido de vidas, ornamentos ou paisagem.

De repente passa um peixinho insignificante.

“- Olha um peixinho. Olá peixinho! Que fazes aí? Onde... onde vais???”

Espera aí...
Eu estou a falar com um peixe? Acho eu que era um peixe pois o que se via era esbatido e sem sentido.

Mas,
Á falta do peixe, o que fazer?

Olho em volta e nada se vê:

A cidade desapareceu,
As pessoas foram-se embora,
A paisagem virou-me as costas,
Até a própria água deixou de existir.

Ora! Não é nada de especial.
Só estou a sentir-me sozinho; mais nada.
Pelo menos é o que eu acho... acho...

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