A espera...

Um longo olhar envergonhado.....
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Quero fugir

Quero fugir...

Para onde o silêncio do vento,
Esfria a alma.
Para onde a dureza da rocha,
Enrijece o espírito.
Para onde a claridade do céu,
Escurece o nosso ser.
Lá, no topo da montanha;
Mais perto do céu,
Mais longe dos terráqueos.
Lá, deitado com a vista perfeita;
Entre o paraíso desejado,
E o inferno entranhado.
Ali a paz é rainha do infinito.
Para todo o nosso pequeno sempre.



Em memória de ... ... .

Há algo de errado neste branco, não o reconheço.
O Preto mete medo; o Azul é misterioso; o Vermelho tem vida.
Mas este Branco não me faz sentir bem. 

Dizem que o Branco simboliza a Paz.
Mas quando olho aquela pedra fria não respiro essa paz.
Não sei porquê…

Talvez por esse descolorado ornamento de jarras com flores velhas e melancólicas.
Cada uma relembra uma vida activa, alegre e muito vivida.
É o que sinto quando olho aquele conjunto esbranquiçado.

Talvez por ser esta é a última morada, 
Clara como o céu, branco angelical. 
Mas são os demónios que me perseguem, 
Maus momentos e arrependimentos. 
É o que vejo quando olho para este branco. 

Talvez por ser este o Último lugar de repouso,
Cândido descanso eterno. 
Mas o passado não desaparece, 
Atormenta-nos com tudo que não foi feito. 
Não há sossego. 
É o que sinto quando olho esta lápide.

Areal Nocturno

Prostrado nos degraus do deserto escuro,
Lento fito o crude oceânico.
Fito o céu mesclado de azul preto,
Cravado de figurinhas cintilantes.
Na nudez das patas;
Sinto o frio da areia milenar,
E do pó morno que lhe alisa a pele.
O vento sul,
Outrora quente e acolhedor,
Deu a volta de mansinho;
Agora fustiga-me a carne,
Gelando-me a alma.
As cores vivas, negras são,
E vivo só mesmo o respirar:
Compassado, forçado, fugaz…
Depois da noite cruel,
Não vem o belo dia.
Esse, há muito que vestiu a pele do lobo,
E, quer de dia quer de noite,
Caça a inocência a seu belo prazer.
Sem prazer, recolho os ossos ao leito.
Onde a mente,
Cava a sepultura do sono;
Quase, quase eterno…


Um último cigarro















É as manchas nos dedos,
A tristeza do último cigarro,
E o isqueiro na outra mão,
Para ajudar na destruição.

O acto é penoso, mas necessário.

A breve chama incomoda os olhos aguados,
Cintila a brasa perdida na escuridão.

Como a vida:
O Ar arranha ao entrar,
E sonoro à saída
Ninguém o ouve.

São sussurros lentos,
Pensados a quente,
Abandonados a frio.

E como a vida:
Começa com uma faísca,
Termina com um apagão,
E um arremesso para a berma da estrada.

A Vida,
Essa continua,
Indiferente às palavras profundas,
Aos gestos marcantes,
E ao lixo nas ruas.

Está tudo ao contrário:


Vivemos nesta selva carente,
Onde nada é o que parece.

São árvores de cimento,
Relva de asfalto,
E animais não racionais...

Belas obras de arte passam por nós,
Cumprimentam de alto,
E falam apenas publicidade enganosa.

Trocam bondades como quem toca cromos,
Leiloam caridade ao mais alto preço,
E desaparecem como pura magia
Quando realmente é preciso...

Vivemos num mundo retorcido,
Prostrado perante o poder,
E rebaixado pela vaidade.

Seres encantados com eles próprios.

O que será que vêm ao espelho...
Todos os dias?

Melodia


No universo do silêncio,
No espaço sem som,
Fico prostrado sem reacção.

No meio do nada,

Aparentemente sem nada,
Apareces sem ser convidada.

Lenta e vagarosamente,

Como aquele leve sussurro,
Abres-me o apetite, deliciosamente.

Aproximas-te simples e nua,

Encantas sem preconceitos,
E falas-me ao coração.

Nota após nota, 

Numa harmonia perfeita,
Falas com sentimento.

É que uma boa melodia,

É como a própria vida:
Bela e maravilhosa.

Algo porque vale a pena ouvir, viver e lutar.


A vida com música,

É a música da vida.