Conversa de Grupo.




O jantar estava óptimo.
É sempre bom jantar com amigos á volta de uma mesa.
Novos e velhos unidos a desfrutar de uma refeição proporciona grandes momentos de convívio. A conversa nasce naturalmente do encontro; estende-se por todo o grupo aquecendo a pequena comunidade, dando inicio ao debate.

Depois dos cumprimentos afáveis e sempre bem-vindos iniciais, os diálogos cruzam-se e misturam-se num único canal uníssono.

O tempo é sempre o primeiro assunto abordado; preocupação geral da população em qualquer conversa. A meteorologia tem um papel fundamental em todos os diálogos: preenche os espaços vazios quando não existe assunto; fala-se da credibilidade dos seus profissionais e do seu devido respeito que muitas vezes não tem; mas principalmente, abre o apetite para os restantes assuntos.

Os ausentes estão sempre presentes; quer por não estarem, quer por já não estarem… São parte integrante do grupo, ampliando-o com as suas presenças virtuais. Saltam boas e más memórias partilhadas com o devido respeito que merecem. Até os respectivos lugares vazios ganham vida momentaneamente.

Todos conversam, todos falam, poucos ouvem. Uns falam disto, outros daquilo. De tudo se fala nesta mesa pouco redonda.

Há quem fale de si, talvez dos seus êxitos e alegrias; mas sempre dos males e preocupações que nos assolam. A resposta, embora empática, é sempre egoísta. O centro da conversa passa então do emissor para o receptor. A maior parte das vezes a resposta, deixa de o ser, para passar a emitir a nossa própria experiência. Os nossos problemas são sempre mais importantes que os do próximo, menosprezando as suas emoções e valorizando as nossas.

Há quem fala dos outros, talvez dos seus êxitos e alegrias; mas sempre dos seus males e preocupações. Na maior parte das vezes vemos primeiro o lado mau das pessoas em vez de do bom. Somos conhecidos pelos nossos erros e defeitos independentemente das qualidades que temos.

Todos queremos ser o centro das atenções; independentemente da importância do que ouvimos. É por isso que num grupo existem sempre mais emissores do que receptores. Sendo assim, concentramo-nos de tal maneira na relevância do nosso discurso que perdemos completamente a capacidade auditiva; esta se existe, apenas serve para sabermos como encaixar o nosso discurso na conversa.
Por isso se geram mini-grupos: passamos de uma grande mesa redonda para pequenos círculos fechados; de um discurso geral para diálogos a dois.
E quando não conseguimos a atenção desejada, quando sentimos que estamos a perder o nosso pequeno poder, então falamos para o vazio; falamos para nós mesmos na esperança de que alguém nos ouça, e nos insira na sua conversa.

Tudo acaba como começou: afavelmente. As despedidas são sempre sentidas e demoradas para ficarem na memória. Fazem-se promessas vãs de um novo encontro, entre presentes e ausentes, que normalmente acabam na ausência de todos.
Todos os jantares de amigos começam com a ideia de um único. A esse juntam-se todos para a alegria do convívio. E termina cada um para seu lado como tudo na vida…
…Até uma próxima vez!

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá Pedro!

Não fazia ideia que tinhas um blog!!! (e com textos deste calibre...)

Um abraço,
Jaime

Anónimo disse...

Tens toda a razão, e por mais que a sinta não posso deixar de fazer um mea culpa.

Bem observado!
Carlos

Anónimo disse...

Ja se perderam a conta a jantares assim não e verdade pedrocas?
marta