De braço no ar,
Punho cerrado,
Estava pronto para atacar.
Iria bater com força,
Determinação e confiança;
Estava pronto para conquistar o Mundo.
Pensava com clareza:
“EU consigo enfrentar o Pai dEla!”.
Quando ele abrisse a porta eu diria com orgulho:
“Boa noite, venho buscar a sua filha para ir á discoteca.”
…
Fitava a porta cinzenta…
Na minha mente, imagens baças de um funeral onde a lápide chorava:
“Aqui jazem os poucos restos mortais que sobraram de…”
A Coragem corou…
A Dúvida hesitou;
E, como não há duas sem três,
Acho que o Medo juntou-se a elas…
A porta parecia maior;
Dura e impenetrável,
Impunha um respeito gélido e soberano.
A mão congelou;
Estava frio naquela noite quente de verão…
O Medo colou-se a mim, como aquele gajo chato que aparece quando não deve.
A Dúvida, sempre ponderada, catalogava possíveis reacções macabras.
A Coragem… Essa queira ir para casa com o rabinho entre as pernas.
Apenas a mão se mantinha firme.
A mesma que a garrava a dela com alegria;
Que afagava o seu rosto na tristeza;
Essa, que a arrebatava com mestria e romantismo.
Sozinha, sem olhar para trás, mantinha-se a uma curta distância da porta;
Faltava um gesto, uma acção, um único verbo para tudo acontecer.
Mas as variáveis eram tantas que impediam o processamento.
A visão turvava com o Medo,
Balançava com a Duvida,
Gelava com a falta de Coragem.
E ali fiquei, sozinho á porta de uma casa cheia de gente;
Mera estatua rígida do que outrora fora.
Todos os sonhos e esperanças esbarraram num acidente inevitável…
… Os sonhos bateram de frente contra a realidade.
O tempo parou, mas parecia que fugia a sete pés;
O Medo impedia de bater á porta,
A Dúvida dividia-se entre múltiplas desgraças possíveis,
A Coragem arrastava-me para casa onde se sentia segura.
Com esta companhia estava visto que nada iria acontecer…
Mas no meio de tanta discussão, algo inesperado aconteceu,
O inesperado é apenas aquilo que não pensamos;
Pois a Dúvida impedia o raciocínio,
O Medo descartara a variável impossível,
E até a Coragem não quis ver o erro.
A acção tornou-se real,
A porta abriu-se,
E perante tanto conflito interno,
A Esperança saiu correndo de casa:
- “Vamos? O meu pai disse para eu chegar a casa até às duas!...”
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