O Padrinho






















Aquela rude mão olhava para ele com enorme altivez;
Os dedos enrugados espalhavam terror na sua mente.
O brasão do anel de família, brilhava com tanto poder que lhe doía a vista.
De joelhos não conseguia ver o velho homem sentado na sua poderosa poltrona.
E levantar os olhos seria considerado uma falta de respeito.
Por isso, mantinha-se ali mesmo, prostrado á sua frente.

O discurso era lento e sóbrio.
Proferido por alguém com a sua idade, sabedoria e poder, tornava-se ainda mais intimidador.
Mas não conseguia ouvi-lo: o brilho do brasão cegava-o de morte; as enormes gotas de suor batiam no soalho gasto como enormes pancadas na cabeça; e o velho, esse dissertava sobre o seu destino como mera moeda de troca fosse.
Mas sabia bem o que ele estava a dizer…
Também não conseguia falar: tinha a garganta seca; as cordas vocais entorpecidas; e qualquer resposta poderia ser mal interpretada e o resultado seria devastador.
Mas sabia que tinha de responder…
Por isso tudo mantinha-se calado, prostrado, frustrado e resignado.

A voz, até agora solene e sóbria, parou abruptamente. Terminou com uma pergunta fatal.
Um silêncio mórbido abateu-se naquela sala como num cemitério. Até dava perfeitamente para ouvir a sua respiração ofegante, e o forte bater do coração do velho.

Sem saber o que fazer, de olhos cravados no chão e a alma trespassada pelo temor, lá conseguiu articular:

- “Sim; eu sei que me fizeram uma proposta que não posso recusar…”.

A tempestade ribombou; um novo trovão suou tão forte como mortífero, ecoou pela sala como se centenas de juízes a proferissem: “Então?”

Curvado por respeito, calado por medo e de olhos fechados por vergonha, aceitou o inevitável.
Engoliu em seco para ganhar coragem; cerrou os punhos para combater o medo; balançando a cabeça de um lado para o outro lá faz cair as palavras no charco de suor:

- “Não posso!... Não posso!... Não posso!”

O maléfico sorriso sonoro do velho percorreu-lhe a espinha.
Talvez em tom de esperança; talvez em tom de fatalidade.
Talvez o seu destino estivesse traçado desde o início.

Então, de um dos capangas saiu disparada a sua sentença: “Assim seja!!!”.
As palavras atingiram-no na cabeça como um trovão anunciando o fim do mundo.
Deitado no chão, com o sangue a jorrar da testa, milhares de imagens da sua longa vida varriam a sua mente.
No entanto só pensava onde raio teria errado.
Não, não pensava. Já não pensa mais…

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